segunda-feira, 26 de novembro de 2018

KURO OBI (Faixa Preta)



     O verdadeiro treino em artes marciais passa por diversas etapas; no final de todo o processo de treinamento, chegamos a um crescimento mais espiritual do que físico.  O início de todo treinamento chama-se KEIKO (praticar).  Nesta etapa aprendemos as diversas técnicas que compõem o estilo do KARATE SHOTOKAN assim como iniciamos a treinar KATA.  Estamos mais preocupados com fazer certo as técnicas que aos poucos, aprendemos.  Na etapa seguinte RENSHU (treinar), precisamos exercitar a disciplina a medida que aperfeiçoamos as técnicas.  A compreensão do DOJO KUN e do NIJU KUN, são as principais referências.  Na dúvida, mantenha o respeito.  Estas duas etapas compõem basicamente todos os exames de faixa coloridas, branca, amarela, laranja, verde, azul claro, roxa, azul obscuro e marrom, são todos exames de faixa que avaliam nosso progresso técnico, mas também são ritos de passagem; merecimentos de metas conquistadas; esta etapa culmina no exame de faixa preta.
Na etapa de RENSHU, tem-se plena consciência do que um chute, um soco e uma defesa significam.  Entretanto, sua impetuosidade e medo se manifestam através da postura do corpo, seu corpo fala; ficasse tenso, os ombros erguem-se em demasia, a cabeça inclina e se mexe durante a execução das técnicas, seu quadril fica em retroversão ou não executa a rotação adequada à técnica; sua técnica é executada sem KIME.
A faixa preta pode parecer para alguns o ápice, a culminação de um ciclo ou etapa mas para a maioria, não deixa de ser apenas uma outra troca de faixa pois caso não haja a compreensão de KEIKO e de RENSHU, não poderá passar para a próxima etapa de conhecimento:  TANREN. 
Em TANREN, as técnicas são executadas livremente, não se pensa em executar as técnicas, estas apenas aparecem, elas fazem parte do cotidiano.  As técnicas são precisas.  Acertam o alvo a perfeição, com a potência requerida.  Quando se executa KATA; não há distinção entre os movimentos e o executor, ambos estão intimamente integrados.  O treino entra no plano espiritual, metafisico.  Conceitos como MUSHIN (não mente), SHOSHIN (mente de principiante) e MAKOTO (sinceridade) são compreendidos não pelo raciocínio mas pela prática.
Este processo não é tão simples assim.  Ao longo do treino, muitos não conseguem encarar seus medos, ilusões preenchem a mente e a realidade se torna confusa.  Disciplina e etiqueta nos tempos de hoje, em alguns casos, é supérfluo.
O que nos leva a encarar treinos exaustivos então?  Apenas chegar à faixa preta? KARATE DO é um treinamento psicomotor que nos leva a uma melhor compreensão de nós mesmos; trata-se de autoconhecimento; é uma questão de sermos melhores pessoas e entender nosso significado ao longo da vida.

Osss!!!

sábado, 24 de novembro de 2018

XI Aniversário da Academia Ryuzo Kyoshitsu!




Tudo começou com um sonho.  De ensinar KARATE-DO à comunidade, uma arte marcial bastante completa, que não somente trabalha a parte física mas também a mente do praticante.  Uma arte marcial considerada meditação em movimento. 
Comecei com apenas quatro alunos, num sábado de manhã.  Hoje, 70 Alunos depois, 27 alunos ativos, oito faixas pretas graduados, 3 campeões brasileiros, diversas vitorias e conquistas e algumas derrotas, não sinto a sensação de dever cumprido mas sim de que estou no caminho certo.  Sempre tentando dar o meu melhor para fazer com que o aluno RYUZO sinta e viva o KARATE-DO e consiga fazer dele um poderoso alicerce para seu cotidiano.  Fazer com que o aluno sinta se encorajado a ter uma vida melhor de superar seus medos e obstáculos e encontre forças para se superar.
Nestes onze anos aprendi que KARATE-DO não é uma atividade física qualquer.  Fazer KARATE-DO não é apenas fardar o KARATE-GI e executar técnicas de defesa, soco e chutes.  O principal ensinamento do KARATE-DO é o DOJO KUN, sem ele, o KARATE passar a ser um arte marcial violenta e agressiva ou pelo contrário, KATA passam a ser executados apenas como coreografias.  Ensinar KARATE-DO portanto, requer muita responsabilidade, sensibilidade por parte do instrutor e respeitar o momento do seu aluno para que este consiga desenvolver a arte marcial plenamente.  Mais do que uma atividade física, KARATE-DO é uma arte em movimento para toda a vida, é autoconhecimento para poder evoluir, é sinceridade para consigo mesmo para poder compreender seus medos e dificuldades.  KARATE-DO é assim superação.
Parabéns RYUZO KYOSHITSU por estes 11 anos de existência.  Um projeto de vida que está amadurecendo, formando pessoas!!

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

TORA NO MAKI (Tigre no Círculo)



     Este desenho, muito relacionado ao karatê estilo SHOTOKAN, assim como o conhecemos, foi dado de presente a FUNAKOSHI Sensei pelo artista plástico japonês e artista marcial, HOAN KOSUGI.  A primeira vez que apareceu este desenho foi na capa do seu livro, KARATE DO KYOHAN publicado em 1935.  Acontece que, diversas pesquisas apontam este desenho como uma reprodução de um outro desenho similar encontrado num templo budista chinês.  
     Neste caso, trata-se da figura do tigre branco (BYAKKO), o guardião do oeste, uma das quatro criaturas espirituais dentro da mitologia chinesa, que protegem os quatro pontos cardinais.  Os outros três guardiães são o Dragão verde (RYU), guardião do leste, a tartaruga (GENBU), o guardião do norte e a ave fénix (SUZAKU), guardião do sul.
     Por ser uma figura mitológica, está associada ao deus da guerra, e tudo o que é correto.  Eis que também está associada às artes marciais.  É neste ponto que as ideias de diversos pensadores (eu incluído), começam a divagar sobre o significado da figura, criando diversas teorias ao respeito.
     Uma das teorias está relacionada ao arquétipo do guerreiro.  Uma vez que, ao que tudo indica, KOSUGI teria pintado o símbolo para representar força e coragem, dois aspectos fundamentais do karatê; relacionados, por sua vez com arquétipos mentais/emocionais.  Entramos então, numa discussão sobre tudo o que o arquétipo do guerreiro é e representa ao longo dos tempos e seu papel na sociedade, antiga e contemporânea. 
     Uma outra teoria relaciona a figura aos momentos de introspecção de FUNAKOSHI Sensei enquanto morava na Ilha de Okinawa.  Acontece que, casualidades aparte, ele gostava de subir um morro que se chama “cauda do tigre” ou TORAZUYAMA e ali contemplar o movimento ritmado dos pinheiros, em forma de ondas, com a força dos ventos marítimos.  Enquanto fazia isto, ele fazia poesias e as assinava com seu pseudônimo, SHOTO, que significa exatamente esse espetáculo; o ondular das arvores com o vento.
     Minha teoria é mais simples.  TORA NO MAKI (ou também tigre enrolado) era o antigo nome dos pergaminhos (rolos de papel ou qualquer tecido de escrita), que continham os segredos das diversas escolas de artes marciais.  Acredito que o Sr. KOSUGI, ao saber que seu mestre ia publicar um livro com todas as técnicas do karatê SHOTOKAN, ou seja um TORA NO MAKI do estilo de karatê do seu mestre, este criou uma arte condizente com o significado do livro para agracia-lo.
     Independente de tudo o que se pensa, acredito que há uma preocupação sobre os aspectos simbólicos inseridos no karatê SHOTOKAN, assim como seus aspectos filosóficos.  Abrindo diversos temas de discussão sobre o significado do símbolo.

Osss!